Autora: Léa Barbosa de Sousa. Pedagoga e Especialista em Psicopedagógia Institucional e Clínica. Mestranda em Ciências da Educação.
Com frequência presenciamos o castigo escolar como punição por algo que o aluno fez ou deixou de fazer, que desagradou o professor. Para o Francês e sociólogo Pierre Bourdiu, o castigo escolar é classificado como violência simbólica para a criança, traduzindo-se em situações como: promover ansiedade, medo e tensão provocados pelo professor. É humilhante para criança ser punida na presença dos colegas, pois as mesmas não estão preparadas para tal situação constrangedora.
A forma como o erro vitimiza o aluno é entendido pelo autor como uma questão inicial que aos poucos vai se desenvolvendo como uma visão culposa extremamente grave perante a vida, pois é castigado duplamente, pelo outro que o qualifica sua incompetência e por si mesmo que ao repetir o erro vivencia a autopunição.
O castigo que as escolas mais usam hoje é deixar seus alunos sem recreio, tirando dos mesmos a parte essencial para o seu aprendizando. Alegam que agindo assim estão contribuindo para o crescimento e amadurecimento dos mesmos, tirando o que eles mais gostam. Não concordo, existem outras maneiras de corrigir um erro, e este não é o melhor a ser usado.
Reter alunos em sala de aula durante o recreio; suspender o lanche; passar mais tarefas que os de costume; ameaçar de castigos mais severos; ridicularização no coletivo; ameaçar de reprovação; fazer testes relâmpagos, enfim, uma série de situações que surgem por causa do erro, faz com que o aluno se sinta culpado, não só pelo erro que cometeu, mas por tudo que venha fazer e não dê certo.
Segundo especialistas, à hora do recreio é o melhor momento para o aluno, o descanso na hora do lanche tem papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e psicológico da criança. É nesse momento que o estudante descansa a mente e interage com outras crianças da mesma idade, aprendendo a se defender e a lidar com as diferenças. Assim, além de melhorar o aprendizado na sala, as crianças desenvolvem o lado social. Para a psicóloga Cristiane Decat, o recreio é um momento rico para todos os alunos, principalmente para o aluno que tem um mau comportamento.
É com o corpo em movimento que a criança se organiza e aprende. O recreio é fundamental para que este aprendizado se realize. A brincadeira praticada na hora do recreio acontece espontaneamente e isso ajuda na formação da personalidade importante nesta faixa etária da vida escolar, social e familiar.
É no recreio onde acontece a socialização e segundo Vygostk é na interação com o outro que o ser humano aprende a viver em sociedade e a escola é um ambiente formador desta socialização que a meu ver é imprescindível para o desenvolvimento da criança e do adolescente.
Para Cunha (1994), a autora diz que é no recreio que a criança aprende a participar das atividades, gratuitamente, pelo prazer de brincar, sem visar recompensa ou temer castigo, mas adquirindo o hábito de estar ocupada, fazendo alguma coisa inteligente e criativa.
Entendo que é preciso intervir diante de uma situação problema em sala de aula, mas é preciso que à escola em conjunto vejam qual o tipo de correção usar diante de um erro cometido pelo aluno e qual a postura correta de seu professor. O professor é um líder em sala de aula, ele conhece o seu aluno melhor do que qualquer funcionário da escola, por essa razão não deve expor o aluno. O professor é também um exemplo para seus alunos, o estudante vê como um referencial a seguir, e ele deve saber como proceder, a identidade e integridade do aluno devem ser preservadas, uma boa conversa pode resolver, caso não resolva, a direção escolar deve ser informada.
Para Outeral, médico psiquiatra (1994, pág. 72) Diz que os professores são pessoas importantes para os adolescentes se identificarem e, nesse sentido, têm uma participação essencial no processo cognitivo dos mesmos. A maioria das pessoas adultas é capaz de lembrar-se de professores importantes, com os quais se identificou da mesma forma que daqueles com os quais buscou ser completamente diferentes.
O professor não pode ser mais um transmissor de conhecimento, mas também um amigo, companheiro, educador, orientador para exercer com sucesso sua função de construtor de conhecimento. Ele é visto como um referencial para os alunos, ele deve exprimir com clareza informações e diretrizes, tão necessárias ao sujeito em formação.
O professor vai ser sempre um professor na visão do aluno, mesmo que não continue na profissão, mesmo que tenha sido um bom ou mau professor, ainda que tenha usado do poder e autoridade para chamar atenção, com certeza este professor marcará a trajetória acadêmica deste aluno.
Para Tiba (1996), a criança aprende fazendo tentativas, dessa forma ela erra e acerta. Se os adultos não aceitarem os erros, criticando duramente a criança, ela própria deixará de aceitar seus erros, perdendo assim, a liberdade de tentar acertar, restando-lhe a obrigação de acertar sempre (como se isso fosse possível).
É fundamental que o professor faça esta intermediação entre o erro e o acerto, levar a criança a uma reflexão do ato que cometeu e não reter a mesma em sala de aula ou deixá-la sem o recreio mostrando-lhe que está sendo punida pelo mau comportamento. O diálogo deve ser permanente entre professores e alunos e, a direção escolar fazer a sua parte neste processo, trabalhando textos, palestras, filmes entre outros.
Considerações Finais
Para finalizar, gostaria de dizer que este trabalho foi realizado a partir de uma observação feita em algumas escolas, que em vez de orientar os alunos sobre o mau comportamento, preferiram retê-los em sala de aula, privando-os do convívio social. Para as crianças o recreio é o melhor momento do dia.
Que possamos refletir através deste texto, que o aluno, sujeito da aprendizagem e da convivência social, estar em construção e formação cognitiva, precisando de mediadores que trabalhem nesta construção e deixem marcas que serão lembradas por toda vida.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo. Ed. Brasiliense, 1990.
CUNHA,Nylse.H.S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo.Ed. Maltese, 1994.
DIA, a dia educação. Cristina Decat. Psicológa. WWW.diaadia.pr.gov.br.2010
OUTEIRAL, José Ottoni. Adolescer. A Infância e a adolescência. Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 1994.
TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo. Ed. Gente. 72ª edição.